Não tem como iniciar esse post não trazendo uma pequena comparação de como foi meu primeiro ano aqui na Suíça para – quase – esse segundo (só eu tenho a sensação que são dois anos que parecem mil? rs). Engraçado, porque sempre penso como quando nós saímos das situações desafiadoras em que vivemos, conseguimos enxergar elas de uma maneira muito mais ampla e consciente – e foi exatamente isso que aconteceu e tem acontecido comigo.
Me lembro que ainda esse ano, em pleno verão europeu, eu estava caminhando por uma cidade que fui conhecer em um dia comum e tava preocupada em como seria o meu segundo inverno aqui na Suíça com milhões de gatilhos na minha cabeça que me tiravam do momento presente. Digo isso porque no meu primeiro inverno aqui eu tive depressão sazonal – algo que muitas pessoas sentem e muitas vezes nem imaginam que podem ser isso – e comigo não foi diferente, eu só não queria sentir isso de novo. Até que em um determinado momento, uma placa na minha frente me chamou atenção justamente por ter um desenho de um sol – então eu decidi parar pra traduzir o que tava escrito nela.
Ok, “universo” hahaha
recado entendido.
É fato que a função primitiva do nosso cérebro é nos proteger e, como uma forma de proteção, o meu cérebro sempre gerou esses gatilhos de achar que toda experiência que eu vivi no passado se repetiria da mesma forma – só que não.
Dito isso, preciso dizer que uma das coisas que mais tenho sentido um grande avanço na minha vida nesse meu novo momento aqui, é conseguir mudar o mindset perante os desafios que me aparecem pela frente. Eu sempre falei que preferia romantizar a vida e enxergar ela da forma lúdica como eu costumo ver do que enxergar como um peso. Mas, eu também preciso dizer que muitas vezes eu caiía em uma cilada de fantasiar um pouco a vida.
qUANDO EU ERA VÍTIMA DA VIDA
Eu achava que em um determinado momento, toda minha vida estaria 100% bem resolvida e que, finalmente, eu poderia descansar (agora escrevendo isso, me soa até como se eu estivesse o tempo todo esperando pela morte – contraditório né?).
Pensa em uma imagem aqui comigo:
Eu, deitada em uma cadeira de praia super confortável, ouvindo o som do mar em um paraíso sem nenhuma interrupção (soa até como o tal paraíso que dizem que vamos após a morte né? haha) – e ok, essa cena pode se tornar real em um contexto de férias, lazer e descanso – mas, vamos combinar? a vida não é todos os dias como essa cena que eu imaginava – graças a Deus, porque afinal, é a vida.
Hoje, olhando pra trás, vejo que essa cena era mais como uma zona de conforto que eu costumava viver e até uma forma “meio doida” de achar que enxergava o mundo de forma leve mas no fundo, ele era pesado em vários sentidos. Eu ficava esperando o dia em que todos os problemas da minha família estivessem resolvidos, todos meus familiares tomassem consciência do “nó” em que eles viviam (que arrogância a minha de achar que sabia o que seria melhor pra eles), que minha vida financeira começasse a decolar sem esforço algum (e quando digo esforço não estou dizendo de algo pesado, leia-se esforço como movimento), meu filho estando super bem equilibrado emocionalmente e atendendo minhas preocupações e eu sendo uma boa mãe, profissional, esposa, filha, irmã, neta, tia, sobrinha e por ai vai (quem nunca, né?)
Conclusão? Obviamente eu era uma frustrada. A cada novo desafio que me aparecia era um novo teatro na minha vida e, nesse teatro, eu não era protagonista, eu era a vítima: “Nossa, eu só quero ter paz” – dizia eu olhando para os Alpes através da janela da minha casa rs. Irônico, né?
De fato, eu não conseguia enxergar que o próprio momento em que eu estava pedindo por paz, já era um momento de paz. Mas o que fazia com que eu enxergasse qualquer momento como um “turbilhão” (palavra sempre muito presente no meu vocabulário) era que eu tinha me acostumado tanto com isso na minha vida que eu comecei a normalizar o caos de forma inconsciente. E pior, eu comecei a enxergar aquilo como a minha realidade em tudo. Quando eu não estava vivendo um caos, eu mesma criava o caos.
Enquanto para alguns os cenários deslumbrantes da Suíça era um privilegio, para mim aquilo tinha se tornado irritante. Uma vez uma seguidora no Instagram me falou depois de viver o puerpério na Suíça que tinha vontade de explodir os Alpes e eu posso dizer que também tive essa vontade.
Quanto mais as coisas explodiam dentro de mim mais eu olhava aquelas montanhas e me sentia sufocada por elas. Toda a beleza que eu via antes tinha desaparecido e a cada problema que surgia eu tinha vontade de sair correndo – só não sabia pra onde – o que era pior ainda dentro da minha cabeça.
Com todo esse cenário desastroso dentro de mim, eu comecei a buscar pelos culpados de estar me sentindo assim pra fugir da minha autorresponsabilidade (caminho mais fácil, claramente). Já ouviram aquele ditado “quem procura acha?”
Pois bem, essa época comecei a viver experiências e presenciar situações que jamais imaginei ver na Suíça – além de atrair pessoas que estavam na mesma frequência que eu estava: medo, raiva, vitima – eu vivia tendo pesadelos de todos os tipos, me comparava demais, entrei em um senso de competição comigo mesma e com os outros e me sentia muito infeliz e amargurada por dentro.
Me tornei uma pessoa literalmente rabugenta e que vivia reclamando de tudo. Nessa época eu olhava a Suíça e tudo o que eu pensava era: “TÉDIO, esse lugar me dá tédio”. E o mais irônico de tudo é que quando cheguei na Suíça, a frase que eu mais repetia era “nossa, tem tanta coisa pra fazer e viver aqui que eu to perdida. Quero viver tudo o que esse país tem pra me oferecer” – e de repente, tudo aquilo que eu via de movimento se tornou um lugar de vazio, inércia, reclamação e tristeza.
pensar positivo realmente ajuda?
Nessas épocas “obscuras” que vivemos é comum ouvirmos de outras pessoas “pensa positivo que vai dar tudo certo” e ok, eu entendo que isso é uma forma automática de querer dizer algo mesmo sem saber o que dizer mas, será que pensar positivo realmente pode nos ajudar a mudar nosso olhar perante á vida e os desafios que vivemos? Eu acredito que não. Mas calma! Eu acredito que não é pensando positivo que vamos mudar nossa forma de pensar – mas sim que a forma como nós pensamos é que vai afetar como nós vemos, nos comportamos e até nos relacionamos com a vida e os desafios que aparecem.
E é aqui que entra o tal do mindset – esse termo que é tão usado no mundo do empreendedorismo e que basicamente traduz a forma como uma pessoa pensa e encara os desafios da vida.
Em um determinado momento comecei a conversar com várias pessoas e inclusive amigas que estavam vivendo ou viveram a mesma situação que eu – e o pior de tudo isso é que muitas delas se culpavam por não estarem bem e não enxergar beleza quando todas as outras pessoas que estavam no Brasil diziam: “Que privilégio ter a vida que você está tendo”. Essa é uma culpa muito comum aqui: você simplesmente não consegue enxergar sua vida com os mesmos olhos de quem vê ela de fora – e quero deixar aqui esse alerta de: o quão perigoso é isso!
Eu sempre tomei muito cuidado com essa palavra: privilégio. De verdade, eu sinto que ela vem carregada de crenças de que pra estar naquele lugar ou posição não existe um preço a se pagar. Como se privilégio fosse um lugar gratuito e sem esforço algum (independente de qual seja). Tudo na vida tem um preço e só quem paga e passa pelas experiências, é que sabe qual foi o valor pago. É bem aquela frase de “cada um sabe a dor e a delícia de ser quem se é“. Até quem nasceu em uma família rica (considerado um privilégio por muitos) paga um preço por isso, acreditem.
E esse é o momento em que você se dá conta: tantas pessoas que vivem em situações precárias e mesmo assim estão/são felizes, nunca nem ouviram dizer que a vida delas é um privilegio – o que me faz pensar ainda mais que essa palavra é usada como uma forma de trazer uma posição/status e não um estado, faz sentido?
Se você está feliz vivendo em situações precárias, tanto faz, você continua sendo um coitado. Mas se você está depressivo vivendo na Suíça, você é um privilegiado – e “ai” de você se ousar sofrer vivendo na Suíça, um absurdo, você jamais teria esse direito.
Quando dizemos isso não estamos validando o “ser” humano com toda sua complexidade que vem com isso mas sim validando as posições em que cada um se encontra como uma forma de status, ego e poder. Um mundo que diz que o “rico” tem que ser feliz independente das circunstâncias e o “pobre” é um coitado, independente se ele está feliz. E o “pior” de tudo, é acreditarmos nisso e criarmos essa realidade pra nós – e pro mundo.
Nessas conversas com determinadas pessoas descobri que ter esse tal privilégio vinha junto com um peso enorme porque, no fundo, elas não estavam felizes aos olhos delas mas deveriam estar aos olhos dos outros. Que louco isso né?
COMO EU CONSEGUI TRANSFORMAR MINHA FORMA DE VER A VIDA E OS DESAFIOS
Eu não consegui, eu consigo. Todos os dias. É um exercício diário e mais que isso, uma escolha diária. Mas acho que o que mudou drasticamente pra mim nesse lugar é:
1. CONSCIÊNCIA
Separar o estado em que eu estou vivendo de quem eu sou e ter uma ação sobre isso.
2. EDUCAR MEU CÉREBRO
Parar de usar tantas palavras negativas e começar a usar positivas no lugar
3. AUTORRESPONSABILIDADE
Entender que nem sempre vai estar tudo bem e que ta tudo bem não estar em alguns momentos – mas que é minha responsabilidade como vou lidar com isso.
4. FAZER ESCOLHAS
Acredite, as escolhas tem um poder imenso sobre como enxergamos o mundo ao nosso redor. Você pode ter começado um dia ruim, mas é você quem escolhe se ele vai continuar da mesma forma.
5. MOVIMENTO
O movimento faz milagres que nem imaginamos e ele nos conduz de volta à vida. Um pouco, todos os dias. Precisamos movimentar o corpo, nossas emoções e os estados em que estamos vivendo pra transformar nossa realidade em algo produtivo.
dica: acho que muitas vezes nosso cérebro acostuma com a nossa forma de pensar e reagir às coisas e nós precisamos realmente insistir até que ele entenda que existem novos caminhos pra se seguir. Eu gosto nesse momentos de usar aquela frase “fake it, until you make it” – apesar de não acreditar que fingir algo é a forma correta porém áàs vezes acredito que podemos usar esse “fingir” pra um lado positivo de literalmente, dar aquele empurrão pro nosso cérebro até isso se tornar nossa realidade.
CRIANDO UMA NOVA REALIDADE
Cada situação que vivemos em nossas vidas pode ter dois lados: o bom e o ruim. Se você tem a mentalidade voltada para o negativo, aquela é a realidade com a qual você vai reagir e tomar decisões com base nesse ponto de vista. Se você tem a mentalidade voltada para o positivo, suas ações serão um resultado dessa mentalidade.
E por conta disso, duas pessoas podem enfrentar uma mesma situação com perspectivas completamente diferentes fazendo com que a realidade delas também se transformem de acordo com isso. O que mais vejo morando aqui fora é exatamente pessoas com experiências iguais ou diferentes mas enxergando esse novo lugar de uma forma completamente controversa.
Enquanto uns enxergam como “perrengue”, outros enxergam como presente. Enquanto uns enxergam como depressivo, outros enxergam como acolhedor. Enquanto uns estão na defensiva, outros estão abertos á novas oportunidades. E ai eu te pergunto:
qual realidade você escolhe viver?
Muitas vezes de forma inconsciente por trazer determinados padrões da minha família, eu escolhi olhar como negativo. E eu sei que é desafiador tomarmos consciência sobre isso e sempre nos questionamos qual tem sido o nosso ponto de vista quando não temos consciência: “será que eu olho de forma positiva ou negativa para essas situações?” E pra te ajudar nesse caminho, eu proponho aqui esse exercício que sempre faço comigo mesma:
1. O que você tem atraído na sua vida?
Desde situações em que você vê, pessoas, conversas, lugares, sonhos. Preste atenção sobre isso porque o mundo externo nada mais é do que um reflexo de como estamos por dentro.
2. Como você tem enxergado o lugar em que vive?
Você tem conseguido desfrutar dos momentos de uma forma positiva e usufruir disso ou só tem vivido coisas em que julga ser ruim, chata, entediante?
3. Quais escolhas você tem feito diariamente na sua vida?
Aqui eu digo em todos os sentidos: no micro e no macro. Desde escolhas na sua rotina como escolhas de onde ir, como agir, reagir á algo e até a permissão que você tem dado para carregar coisas que nem cabem á você.
4. Converse com pessoas que te inspiram e esteja aberta á ouvir um feedback sincero
Eu sempre tive o Pablo (meu marido) e agora tenho a Quel com pessoas que me inspiram na forma de viver áa vida e que constantemente conversam comigo caso eu esteja tendo algum tipo de comportamento que poderia prejudicar os resultados que eu quero ter. Eu sou super aberta a receber esse tipo de feedback porque muitas vezes estamos repetindo tantos padrões negativos ou pequenas palavras que já fazem parte do nosso vocabulário ha tanto tempo que nem nos damos conta do tanto que mudar esses pequenos hábitos podem ter uma transformação gigante na nossa forma de ver o mundo.
Eu não deixei de fazer o meu teatro “drama queen” (às vezes me pego nessa situação mas logo que tenho consciência já sei que preciso sair logo) ou simplesmente comecei a só enxergar coisas boas – e na verdade nem estou dizendo que precisamos só ver as coisas boas – pelo contrário, acho super importante termos uma análise realista da vida pra termos mais clareza e liberdade de onde queremos chegar e enxergar o bom e o ruim também faz parte disso.
A vida não precisa ser pesada mas não adianta fantasiar demais porque ela tem sim seus desafios: nós sofremos, enfrentamos perdas de quem amamos, vemos outros sofrer, caímos, machucamos e somos machucados – e a única diferença disso é que como enfrentamos tudo isso é que vai ditar as experiências que vivemos – independente de onde estivermos.
Por fim, queria te dizer: viva a vida com o que ela te oferece. Não fique esperando que sua vida seja, apenas, feliz. A vida não é sobre isso.
A vida, pra mim, é sobre experienciarmos todos os sentimentos e sensações, aprender com o que cada um deles trazem e criar uma nova realidade pra nós á partir daquilo que desejamos para o nosso presente e futuro. E nunca se esqueça de se perguntar: QUAL REALIDADE EU ESCOLHO VIVER?
Beijos e até a próxima! 🙂