Vamos Pra Onde?

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Sobre Marina Bähr

marina baehr com o sol ao fundo

Talvez esse texto seja um pouco diferente do que você está esperando (ou não, rs).

Aprendi que minha forma de me apresentar é muito mais através das experiências que vivi e recursos que adquiri no caminho, do que de um cargo de sucesso ou formação que tive – porque aliás, eu não tive.

Eu brinco que minha vida sempre foi “de ponta cabeça” e que foi nesse lugar “invertido” que me encontrei. Eu vejo e sinto o mundo de uma forma diferente. Muitas vezes tenho dificuldade de expor isso em palavras e por muito tempo tive medo de ser assim. Sentia mesmo uma falta de pertencimento no mundo como um todo.

Com o tempo fui aprendendo a amar a forma sensível como eu vejo as coisas ao invés de enxergar isso como uma fraqueza. Aprendi a entender a minha forma de funcionar sem me questionar tanto por ser como sou e venho aprendendo cada vez mais a saber valorizar aquilo que eu tenho de melhor ao invés de tentar me encaixar dentro do que é exaustivo pra mim e comum para os outros.

A verdade é que tem muitos movimentos na minha vida que muitas vezes nem eu entendo o motivo de estar fazendo, eu simplesmente sinto que devo fazê-los. Esse sentir sempre foi algo tão intenso e sincero dentro de mim que eu aprendi (depois de muito tempo tentando me encaixar em ser o que esperavam de mim ou ser igual aos outros) que eu vivo a vida de uma forma muito diferente e singular.

A minha história antes da Suíça é uma história muito inspiradora e talvez, pouco à pouco eu vá abrindo ela por aqui – até porque ela acompanha quem eu sou. Mas o que eu quero mesmo trazer agora, é a minha história à partir daqui. Essa história é cheia de significados pra mim. É a história em que eu, finalmente, decidí olhar pra frente – e essa cena, inclusive, foi real e eu vou te contar.



Em julho de 2022, quando já tinha me mudado para cá, fui viajar com uma amiga que estava de viagem aqui pela Suíça: a Isa – sim, a mesma que apresentou eu e a Quel rs, e foi logo em seguida que nos conhecemos que isso aconteceu. Estávamos em Menorca na Espanha e no último dia de viagem a Isa queria tentar fazer o caminho para uma praia específica mas eu senti de ficar onde estávamos porque já tava me sentindo bem introspectiva – isso sempre acontece comigo nos últimos dias de viagens em que façoé como se meu corpo, cérebro e sentidos entrassem em um modo de “deixa eu entender quem sou eu à partir daqui” rs.

Essa viagem foi muito importante pra mim porque fazia anos da minha vida que não viajava mais para lugares de praia e mar – algo que eu sempre amei a minha vida toda e que, por algum motivo, simplesmente “apagou” de mim. Minhas viagens desde que meu filho nasceu, em 2016 – e que junto com isso me despedi da minha avó materna que foi quem me criou, um dos momentos mais difíceis pra mim – sempre foram para lugares frios. (Calma, tudo vai fazer sentido)

Quando a Isa me chamou pra ir pra Menorca, eu nem sabia onde era, mas topei. Tava em uma fase de total entrega e dizia “sim” pra tudo o que aparecia porque sentia que isso faria com que eu me entendesse melhor nesse novo momento (a Suíça).

 



Bom, voltando. Nesse último dia da viagem eu quis ficar na praia que estávamos porque estava me sentindo mais reflexiva e não tão no meu modo “exploradora” (que geralmente se destaca nas viagens) e a Isa decidiu então ficar comigo. Fizemos ali um momento super especial e gostoso de visualização, do que queríamos pro nosso futuro e de tudo que aprendemos uma com a outra nessa viagem. Quando acabamos, um vento bateu no nosso rosto. Foi aquele vento de praia, com uma brisa gostosa de água do mar, mas ao mesmo tempo foi como um sopro.

Depois disso, percebemos que precisávamos ir, pra pegar nosso voo de volta, já estava na hora. Então eu decidi que iria dar um último mergulho no mar, como sempre fazia desde pequena antes de ir embora da praia. Fui entrando no mar em direção ao horizonte e a Isa foi ficando. Me lembro de ir caminhando, até que olhei pra trás, sem perceber, buscando por alguém. Nesse momento, ela olhou nos meus olhos sem saber o que estava acontecendo e disse: “Vai, pode ir” fazendo um gesto com as mãos, como minha avó costumava fazer. Olhei pra frente, e mergulhei no mar.

Esse momento foi pra mim muito mais do que um simples momento. Algo surgiu do passado para me fazer olhar para frente – um movimento sutil em direção á vida. É como se eu sentisse até a figura da minha avó materna me permitindo seguir adiante depois de tanto tempo vivendo um luto interno por sua perda e presa em situações do passado.

Essa parte da minha vida, antes da minha mudança para a Suíça, foi uma busca profunda do entendimento de “quem sou eu” voltada para minha história de vida até ali. Eu vivia uma polaridade tão grande: a morte da pessoa que eu mais temia perder e o nascimento do grande amor da minha vida: meu filho. Foi uma fase em que mergulhei em cursos de autoconhecimento e passei a trabalhar com constelação familiar, uma técnica que me trouxe muita consciência, entendimento da minha história e uma certa sensibilidade em lidar com a vida e as pessoas. Mas a verdade é que, ao mesmo tempo em que entender minha história me libertava, eu também acabei me prendendo muitas vezes no contexto dela e principalmente, no passado.

Quando peguei o avião de volta pra casa (na Suíça), eu tive uma crise de choro que nunca vou me esquecer. Era algo incontrolável. Chorei sem parar. Era como se ali, eu tivesse me despedido de algo que me impedia de ir adiante por não conseguir olhar para frente. A sensação que eu sentia era algo que nunca tinha sentido antes. Uma espécie de presença muito forte junto com muitos questionamentos e uma sensação de vazio – boa e contraditória ao mesmo tempo. Cheguei até a ter uma espécie de confronto comigo mesma depois disso. Foi tipo um balde de água fria que te faz acordar pra vida, sabe? mas de uma forma muito única e, ouso dizer, espiritual.

Antes mesmo dessa mudança pra Suíça acontecer, eu senti de parar com todo o tipo de trabalho que fazia sem uma explicação pláusivel ou racional pra isso. Parei, então, os atendimentos de constelação familiar e os cursos online que ministrava. Eu não entendia o porque disso mas como sempre, segui meus instintos e o fiz. Era como um chamado interno – e que 2 meses depois eu entendi o motivo disso – quando me mudei de país.

A minha vida na Suíça simboliza pra mim, muito mais do que um simples recomeço. Eu sentia um começo. Quando cheguei aqui, eu não sabia o que eu queria e nem quem eu seria à partir dali. Não era mais hora de olhar para trás. era hora de olhar para frente. E mesmo com tudo que vivi nesse 1 ano e meio aqui, eu sempre tive uma certeza muito grande dentro de mim: de que eu seria guiada como sempre fui – pelo universo e pelo meu sentir.

Agora talvez vocês entendam porque sempre tive dificuldade de me apresentar sem contar uma história antes. Eu não sou um cargo, uma formação, um sobrenome ou uma religião. Eu sou todas as experiências que eu vivo e vivi até aqui – é assim que eu me sinto e me vejo – e são essas mesmas experiências que me acompanham que vocês irão ver mais por aqui.



Eu nunca gostei de rótulos porque eu sou o que sou graças a tudo o que vivi e todas as pessoas que cruzaram por mim. Gosto de dizer que minha formação é a vida, meu lugar é o mundo e minha religião é o universo. Posso ser profunda na forma de enxergar o mundo mas dentro de mim também habita uma criança feliz que gosta de se divertir e procura ter uma vida com leveza – mesmo diante dos desafios que aparecem pela frente. Gosto de me perder para então me achar. Gosto de papos profundos e de uma conversa superficial com risadas e vinho. Vivo em busca de um equilibrio e sempre uso o autoconhecimento ao meu favor sem me privar da beleza que é viver a vida – assim, do jeitinho como ela é: bagunçada, divertida e leve.

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