Vamos Pra Onde?

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Você cria a sua própria realidade

quel sentada reflexiva na beira do lago

Hoje eu quero te contar que você é o único responsável pela criação da sua realidade. E eu quero que você reflita: o que essa frase desperta em você?

Um tempo atrás, se alguém me dissesse isso, eu sentiria raiva. Eu diria que é óbvio que não. Eu diria que muito de nossas vidas é sorte ou azar. Eu justificaria minha realidade, minhas frustrações dizendo que tudo até poderia ser diferente, se pelo menos isso.., ou se eu tivesse aquilo…

Eu me fazia de vítima. Eu deixava a vida responsável por me trazer alegria, sucesso, realizações. Mas logo eu, que sempre quis ter tanto controle de tudo, estava perdendo o controle de mim mesma. Eu, como vítima, perdia o poder de ação. Deixava de ser protagonista da minha própria história.

Acontece que naquela época eu não tinha clareza para entender que eu queria vencer. O que eu achava que era melhor pra mim era colo. Eu queria que as pessoas me abraçassem e dissessem: “Nossa, Quel, que difícil. Que pena. Coitadinha. Que injusto”. Eu queria que as pessoas validassem a minha posição de inércia, a minha falta de poder. Poder e responsabilidade andam juntos – e essa validação era extremamente confortável porque tirava de mim o peso da responsabilidade. Do ‘precisar agir’. 

Gostoso né? Se encolher no sofá, receber colo, e ficar ali, esperando a vida resolver minhas questões. Acontece que o preço disso é muito alto. A vida é uma só – e ela não nos deve nada. Ela não tem que nos trazer nada. Nós temos o poder, a oportunidade – e a responsabilidade – de ir buscar o que queremos.

Você sente pena de si mesmo?

Em qualquer escala. Muito ou pouco. Seja sincero. Você conta suas histórias – pra você e para os outros – com tom de vítima? Você coloca no outro a culpa de tudo que te acontece – e sente um injustiçado?

“Eu não tenho tempo”, “Ah, mas é que…”, “Se pelo menos eu tivesse”…

Se sim, você não está sozinho. A gente cresceu aprendendo que uma ótima maneira de conseguir atenção – e conforto – é sendo vítima. E a gente cresceu percebendo que é muito fácil se vitimizar. Que é fácil narrar a nossa história de forma trágica para ser acolhido. É tão natural justificar nossos fracassos e frustrações que quase não demanda esforço. Mas eu vim te contar que existem inúmeras outras maneiras mais saudáveis de ser visto. De receber atenção. Você já reparou que pessoas alegres, positivas e energéticas chamam atenção naturalmente? Que pessoas de sucesso despertam – muito – o nosso interesse? E não é tão mais gostoso se aproximar de pessoas que vivem em movimento, que vivem buscando crescer, que daquelas com uma postura de coitada?

Então por que será que a gente insiste em chamar atenção pelo vitimismo? Bom, pra mim a resposta sempre foi muito simples. É mais fácil. Buscar sucesso demanda esforço. Lutar contra nossos monstros internos demanda esforço. Entrar em movimento demanda esforço. Sucesso exige trabalho. Pra ser vítima, só é preciso apontar os culpados e se encolher. E a gente sempre acha alguém pra comprar nosso discurso. Pra nos dar um colinho gostoso, validar nosso sofrimento e nos confortar.

Mas será que vale a pena?

Nada na vida vem fácil. E se a gente quer mudança, se a gente quer crescer, ter dinheiro, ter sucesso e ser feliz, a gente precisa trabalhar pra isso. O que acontece é que a gente costuma ser um adulto mimado. A gente quer todas essas realizações da vida adulta, mas não quer pagar os preços. A gente quer chegar lá sem esforço – ou com pouco esforço. A gente quer que a vida nos traga tudo de bandeja. E quando não traz, somos vítimas do azar.

Mas a vida vale mais a pena quando a gente deixa de ser vítima dos outros e das circunstâncias e se permite entrar em movimento. Quando a gente abre mão do vitimismo e decide agir. Quando a gente se enxerga como origem e conquista o poder da mudança.

Então ninguém é vítima?

De maneira alguma. Trauma, violência e depressão são apenas alguns dos fortes exemplos que nos fazem vítimas. A gente não pode negar que sofreu. Que foi real. A gente não pode negar que muitos acontecimentos deixam mesmo grandes cicatrizes em nós. Dói e dói muito. Mas o que precisamos entender é que assumir o vitimismo, ou seja, permanecer na postura de vítima, não vai nos ajudar a superar isso.

O que vai ajudar é reconhecermos que temos o poder de buscar algo diferente, apesar dos traumas, que não controlamos tudo, mas controlamos como agimos perante o que nos foi apresentado. A gente não pode mudar o passado, mas pode mudar o futuro. A gente pode usar a dor para o nosso crescimento. E a gente tem o poder de sair da estagnação e entrar em movimento. 

Aproveito para deixar a dica do livro The Choice: Embrace the Possible, da Edith Eva Eger, uma sobrevivente do holocausto (versão em português). Sua história é libertadora, linda, e emocionante. Deixo vocês com a passagem abaixo e reforço a recomendação da leitura.

“Tudo o que acontece de pior nas nossas vidas pode nos derrubar ou nos fazer crescer. Só nós podemos escolher o caminho que queremos seguir: o da luz ou da escuridão.” – Edith Eger

Antes de seguir, vamos entender alguns conceitos: 

Vítima: pessoa ferida, violentada. Quem sofre opressão, maus-tratos, arbitrariedades. Qualquer pessoa que tenha sofrido danos físicos, emocionais, em sua própria pessoa ou em seus bens.

Vitimismo / Vitimista: Sentimento de ser vítima; pessoa que não assume as responsabilidades que tem em relação ao que lhe acontece. É uma postura de autopiedade. É aquela pessoa que carrega a narrativa de que a culpa é dos outros e se isenta de qualquer responsabilidade. É a postura de injustiçado.

Autopiedade: É sentir pena pelas próprias tragédias e erros e permanecer naquele estado emocional de tristeza por tempo demais.

Autorresponsabilidade: é a habilidade de assumir a responsabilidade por aquilo que nos acontece. É parar de transferir para o outro a responsabilidade daquilo que nos incomoda e desafia.

Muitos de nós já fomos vítimas. Isso é um fato. Algo realmente ocorreu – independente da escala, do “estrago”. Entretanto, muitas vezes, nós nos prendemos nesse estado (como eu fazia), nos vitimizando – e acabamos vivendo em autopiedade, deixando de ter autorresponsabilidade. E é exatamente essa autorresponsabilidade que nos torna protagonistas, que desperta o movimento, que nos permite mudar a nossa realidade. 

Saiba que em alguns contextos, não temos mesmo como ter autorresponsabilidade por algo que nos aconteceu: morte de alguém próximo, é um bom exemplo. Mas podemos tê-la em relação ao estado emocional que nos colocamos.

Entenda que o luto é necessário. E seu tempo de duração vai variar. Mas não fique nele pra sempre. Não se permita transformar o processo de digerir o sofrimento, processar as emoções e retomar forças, em inércia. Não alongue o estado de autopiedade.

Eu sei tudo isso, mas minha vida segue estagnada

Muitas vezes, a gente entende com a mente que a gente não deve se vitimizar, mas na prática a gente ainda quer acreditar que o outro é sim culpado pelos nossos problemas. Foi o outro que chegou e fez uma bagunça na nossa vida. E a gente encontra argumentos para nos convencer dessa narrativa, para nos convencer de que fizemos tudo certo, mas veio um terceiro e atrapalhou tudo.

Isso porque entender um conceito não dói. Mas olhar pra dentro e aceitar que a responsabilidade é nossa, dói muito, machuca o ego que tanto vive em busca de elogios e validação. A gente prefere acreditar que o que está acontecendo conosco não está no nosso controle para evitar reconhecer que falhamos ou que temos que agir.

Mas nós temos algum Controle?

A gente realmente não tem controle de muita coisa nas nossas vidas. Com isso, você pode concluir que os desafios que experienciamos são produtos de uma casualidade ou de um “azar” – e se contar a história de que você faz tudo o que pode, mas as coisas dão errado porque fogem do seu controle.

Mas esse pensamento é errado e muito prejudicial. É exatamente ele que gera a inércia. A gente deve sempre se perguntar: Como foi que eu me coloquei nessa situação? Quais foram as escolhas que eu fiz que me trouxeram até aqui? 

E mesmo que a gente realmente não tenha tido nenhuma relação com o que nos aconteceu, a gente ainda pode se questionar: como eu estou escolhendo reagir a essa situação? Eu fui vítima, mas e agora?

Porque nossas ações, a gente controla. E nossas reações, também.

A gente não tem como controlar tudo que nos acontece. Verdade absoluta. Mas a gente sempre tem o poder de escolher como reagir. Não que seja fácil… rs! Muitas vezes, estamos tão fora do nosso eixo, que não reagimos como gostaríamos. Reagimos com justificativas, com raiva, com indignação, com autopiedade.

A gente constrói uma narrativa querendo mostrar pro outro – e pra nós mesmos – que a vida está sendo injusta. A gente se posiciona como coitados. E esse é o pior lugar para estar – porque a gente se diminui muito.

A virada de chave 

Eu trouxe exemplos mais sérios de traumas, mas os desafios que nos motivam a nos posicionar como vítimas são inúmeros e constantes. Todo dia enfrentamos situações desafiadoras em diferentes escalas. Já faz um tempo que tento enxergá-las com as lentes da oportunidade ao invés do problema – até falei disso no nosso texto sobre MUDANÇAS. Mas somos humanos, seres em constante evolução. Então vez ou outra, mesmo depois de muito trabalho interno, eu ainda me pego me vitimizando. Mas a grande sacada é conseguir rapidamente tomar consciência e se tirar dessa posição.

Recentemente, eu me deparei com mais uma situação bem desafiadora.

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